Beleza não põe mesa

OPINIÃO: caso Tânia Bulhões

Acredito que todos já saibam o contexto do escândalo: o vídeo de uma usuária trouxe à tona uma onda de debates sobre transparência, ética (ou falta de) e storytelling da Tânia Bulhões, marca reconhecida por vender elementos como luxo e exclusividade.

Eis que naturalmente sugiram perguntas como: estaria a marca comprando em mercados como China e sobrepondo a label?

Na sua comunicação, usa palavras como inspiração e design autoral quando faz uma curadoria e importa produtos?

As perguntas – absolutamente razoáveis – no entanto, não surpreendem.

Neste caso, no meu entendimento, surpreende, de um lado, o comportamento social do usuário que parece celebrar ao ver uma marca vivendo um escândalo, do outro, surpreende o posicionamento da marca, cheio de nuances que não aplacam os ruídos – pelo contrário, parece legitimá-los.

Posto isso à parte, alguns pensamentos sobre o caso:

  1. Vivemos em um mundo ultragobalizado em que é impossível, de forma perpétua, esconder a origem de um produto. É impossível sustentar autoralidade (a menos que assim seja).
  2. Seja a prática de importar e não trazer luz ao movimento, trocar etiqueta ou colocar um markup estratosférico, nada disso é novo. No meu entendimento, o eixo do caso é a narrativa de exclusividade e criação própria. Ter uma marca que venda curadoria, por si só, é normal. Por isso, me soa mais problemática a história apresentada ao cliente do que o modelo de negócio.
  3. Quebrar um prato é muito menos pior do que quebrar confiança. E esse foi o sentimento gerado aos que durante anos investiram em uma suposta exclusividade. Reconstruir confiança é o maior desafio que uma marca pode enfrentar.
  4. Nós espectadores nunca saberemos a verdade dos fatos. Mas dar anuência para a devolução de coleções supostamente autorais não ajuda a trazer esclarecimento – gera mais controvérsia.
  5. Por outro lado, não compramos só produto, compramos a marca. E embora seja inegável que isso tenha sido bem construído, ao comprar a marca, esperamos, em 2025, narrativas verdadeiras.
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