Como eu vou ser feliz se…

O ano é 2024 e muitos perfis seguem alimentando a tirinha viral cujo centro do storytelling é “como eu vou ser triste se..”, num formato que une uma espécie de retrospectiva do Spotify com autobiografia.
Embora eu fatalmente deslize o dedo pra ver mais sobre as conquistas de pessoas que sequer conheço, mas sou viciada em acompanhar, confesso que reescreveria o início: na minha visão, a pergunta do século não é sobre como não ser triste, a pergunta é sobre como ser feliz se. Apesar de.
Como ser feliz ainda que. Como ser feliz se comparando com. Como ser feliz quando as redes ecoam na velocidade da luz que felicidade não é mais um sentimento ou um estado de espírito e sim um grande rolo de conquistas que cabe num carrossel.
Ser feliz estando nas redes não é pra amadores. Tem que ser pro. Tem que ser federado. Estar diariamente exposto à um ambiente que pode te inspirar de forma nunca antes vista, mas te fazer sentir pequeno de forma nunca antes vista, exige doses de coragem, saúde mental, espírito elevado e uma inconfundível certeza de que, no fundo, nunca saberemos se aquela pessoa que seguimos é verdadeiramente feliz ou triste. E nem deveríamos saber. Sobre felicidade e tristeza, isso compete à nós – com licença poética de envolver o nosso eu do passado, do presente, e do que almejamos ser no futuro.
“Como ser feliz se” é uma provocação, um ponto de reflexão para calibrar a capacidade de sermos felizes “apesar de”. Porque se você não é feliz apesar de, nunca saberá o que é de fato sentir felicidade. Nunca chegará o tempo de perfeição, de astros 100% alinhados, da vida acontecendo como se fosse uma equação matemática, com respostas cartesianas.
A verdade é que “A vida esquenta e depois esfria”, já diria alguém que a Internet adora reproduzir, e que não haveria forma melhor de encerrar este post do que me apropriando de uma pergunta do Nizan com um aditivo autoral:
Você aguenta ser feliz, apesar de?