Emissora que vive de publicidade não se sustenta

Imagine a sua emissora de televisão preferida. Agora imagine que, de toda a sua massa de programação, 90% passa a ser composta por comerciais. Você continuaria assistindo ao canal? Se manteria um espectador atento? A resposta é “não.” E por isso o engajamento está tão baixo.
Estava conversando com uma grande influenciadora que eventualmente me consulta e ela me disse, meio desesperada: “Marcela, pago o dinheiro que for pra você me ajudar, a entrega tá muito baixa, o público simplesmente não engaja”. Não tive dúvidas ao responder: não é sobre o dinheiro que você pode me pagar, é sobre o dinheiro que você está disposta a deixar de receber. O que isso significa? Que quando você (influenciadora), hoje um grande veículo de comunicação, passa a ter uma massa composta quase em sua totalidade por publicidade, vai perdendo a serventia.
Pouco a pouco, sua audiência, ainda que inconscientemente, passa a desconsiderar a sua entrega por associá-la com falta de imparcialidade. Todo esse movimento traz fadiga para o conteúdo e desgasta a relação com os seguidores. Como pode alguém gostar de tudo? Todos os looks, todos os utensílios, tudo é mara? E o que não vale a pena? A verdade é que a audiência está cansada de publicidade disfarçada de dica boa – a gente quer, muitas vezes, transparência a respeito daquilo que não vale nosso investimento de tempo ou dinheiro. E muitas influenciadoras acabam não fazendo essa parte do serviço porque sim, pode ser um pouco comprometedora com o anunciante.
A grande sacada aqui é entender que o seu principal cliente não é a marca e sim o seguidor. Quem vende publicidade vende a sua imagem somada ao seu apanhado de audiência, ou seja, o seguidor é eixo fundamental da sustentação do faturamento da influenciadora. Por que ele tem sido tão desconsiderado? O público suplica pela volta da dica de amiga genuína, do sincericídio. Isso ter virado negócio de gente grande não deveria ter massacrado a espontaneidade e o orgânico, pelo contrário. Quanto mais dinheiro, mais liberdade. Mas o X da questão é que liberdade só funciona para quem tem compromisso. E o das emissoras deve ser com sua audiência. Não importa o como nem o quanto.