Mais marketing, menos humanidade: crise de valores aflora nas semanas de moda 

OPINATIVO: Mais marketing, menos humanidade. Por que virou febre chamar atenção pelo asqueroso?

Uma das estratégias mais antigas de marketing e da própria publicidade é colocar de forma proposital uma marca para se aventurar em polêmicas para obter atenção orgânica da mídia, dos usuários e dos clientes. No meu ponto de vista, se uma marca precisa abdicar da humanidade para mobilizar o mercado, a marca entende de tudo, menos de marketing.

Marcas são agentes, organismos que têm sim um papel social, seja de servir, de emocionar ou inovar. Constranger, gerar repulsa e apresentar algo que esteticamente pode ser interpretado como apologia à caça é indiscutivelmente vexatório. E a disputa acirrada por atenção está no centro disso.

Intenções geniais são rasgadas cada vez que uma execução é duvidosa. Boas intenções e nem mesmo arte são argumentos para justificar que uma maison tão importante para a história coloque no seu desfile cabeças de animais, ainda que elas tenham sido feitas de espuma. Os olhos do mundo não alcançam a espuma e sim a cabeça.

Um desfile de alta costura deve ser pensado para ser conceitual, para questionar, ter liberdade criativa, ousadia e um olhar especial para a moda. Todavia, o que temos visto nas passarelas internacionais – e especialmente nesse desfile – não consigo engolir que seja moda, arte ou marketing. Na minha perspectiva, não passa de mera espetacularização do desumano.

Concordo, acredito e crio campanhas que tenham o objetivo de gerar impacto e isso é muito do que alimenta a publicidade, é estimulante ver o poder da publicidade em trazer assuntos para a roda, em gerar reflexão coletiva, contar uma história e inspirar riso e pranto (como as últimas propagandas do Itaú).

Mas um marqueteiro genial – e um ser humano, ora, humano – não deve nunca abrir mão de determinados valores pelo buzz, pelo espetáculo, pela manchete. Colocar modelos para carregar estas cabeças é retroceder décadas (uma versão dark de quando era cool fumar). Os tempos mudaram.

Evoluímos como pessoas, publicitários e estilistas. Espetáculos devem ser criados com a cabeça, mas não estas.

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